top of page

Design político e pertencimento: criar é um ato de escolha

  • Foto do escritor: Edu Nicola
    Edu Nicola
  • 17 de jul.
  • 3 min de leitura

Quando falamos sobre design político e pertencimento, não estamos falando apenas de conforto visual, acessibilidade mínima ou inclusão simbólica. Estamos falando de decisões que moldam como as pessoas vivem, se relacionam e são reconhecidas no mundo. E, muitas vezes, essas decisões são tomadas sem considerar quem mais vai viver com elas.


Ruben Pater, no livro Políticas do Design, afirma: “O design frequentemente falha com os marginalizados porque foi feito sem eles”. Essa frase nos obriga a parar e observar com mais cuidado o que estamos fazendo. Afinal, de que serve um projeto bonito, funcional e “universal” se ele apaga histórias, exclui vivências e reforça padrões coloniais de estética, linguagem e comportamento?


Card tipográfico em fundo vermelho com a frase: 'Cuidado! O design pode excluir se seguir padrões', assinada por Edu Nicola. A arte alerta para os riscos do design excludente.

O problema do “universal” e os padrões coloniais no design


Quando falamos de design “universal”, estamos falando de soluções que supostamente funcionariam para todas as pessoas, em qualquer lugar do mundo. Só que, na maioria das vezes, esse “universal” foi criado com base na vivência de uma minoria: branca, ocidental, de classe média e com acesso à tecnologia. Ao tentar atender “todo mundo”, muitas dessas soluções acabam atendendo sempre os mesmos grupos — e excluindo outros tantos que não se encaixam nesse molde.


Já os “padrões coloniais” são aqueles que foram impostos historicamente por países colonizadores como modelo ideal. Eles aparecem em escolhas estéticas, formas de escrita, símbolos visuais e até no que consideramos belo, certo ou moderno. Esse modelo de design — marcado pelo modernismo europeu, por exemplo — foi exportado e reproduzido em todo o mundo, desconsiderando contextos culturais, saberes ancestrais e outras formas de viver e comunicar.


O resultado? Um design que reforça desigualdades ao invés de enfrentá-las.


Exemplos de como o design pode excluir


  • Uma interface de site que exige CPF para cadastro desconsidera pessoas refugiadas ou migrantes sem documentos locais.

  • Um formulário de gênero binário (apenas “masculino” ou “feminino”) apaga identidades não-binárias e trans.

  • Um aplicativo de saúde que usa apenas imagens de pessoas brancas comunica, mesmo que involuntariamente, que pessoas negras não são o público-alvo.

  • Um mapa turístico que destaca apenas atrações eurocentradas perpetua o apagamento de culturas locais e saberes tradicionais.


Tudo isso é design. E tudo isso é político.


Design regenerativo e o papel do pertencimento


Daniel Christian Wahl, no livro Design de Culturas Regenerativas, amplia esse olhar ao propor que o design seja um instrumento de reconexão: com o planeta, com o tempo cíclico, com o outro e consigo mesmo. Ele diz que “não regeneramos o mundo sem nos regenerarmos”. Isso significa que desenhar com consciência não é apenas sobre o que criamos, mas sobre como e com quem criamos.


Para Wahl, o design regenerativo é uma prática situada, que rejeita soluções genéricas e parte de uma escuta profunda dos contextos. Ele propõe que deixemos de ser “solucionadores de problemas” e passemos a ser “facilitadores de processos” — o que exige tempo, abertura, cuidado e disposição para conviver com a complexidade.



Design político e pertencimento na prática


Pertencer é sentir-se parte. E ninguém se sente parte de algo que foi construído sem sua voz. O pertencimento nasce quando as pessoas se veem refletidas — não apenas na estética de um projeto, mas nos processos que levaram até ele. Isso só é possível quando o design deixa de ser sobre “para quem” e passa a ser feito “com quem”.



Práticas para quebrar padrões excludentes no design


  1. Comece com escuta, não com briefing pronto. Antes de definir um problema, converse com quem vive a situação. Deixe que essas pessoas nomeiem o que precisa ser cuidado.

  2. Inclua múltiplos saberes. Traga vozes negras, indígenas, periféricas, trans, idosas, neurodivergentes. Elas precisam estar no centro da criação, não como validação final, mas como parte ativa do processo.

  3. Questione os padrões. Se todo mundo está usando uma mesma linguagem visual ou processo, pergunte: esse padrão atende a quem? Exclui quem?

  4. Prototipe com as pessoas. Não crie em laboratório. Teste, escute, ajuste — de verdade. Isso exige humildade e abertura para errar.

  5. Documente e compartilhe. O design regenerativo não se sustenta em soluções fechadas. Ele se fortalece em redes, trocas e melhorias contínuas.



Criar com consciência é criar com urgência


No fim das contas, repensar o design político e regenerativo é repensar a forma como nos relacionamos com o mundo. Criar com consciência não é um diferencial — é uma urgência. E só vamos transformar o futuro se tivermos coragem de transformar as formas de criar no presente.

Comentários


crie um futuro
de pertencimento!

assine a nossa newsletter!

Muda Disso_Logotipo Horizontal Preto.png

Mudando pessoas através de pessoas.

nos siga nas redes

  • Instagram
  • LinkedIn
bottom of page