Visibilidade Lésbica: Quando o Afeto Vira Política e Ganha o Futuro
- Muda Disso
- 25 de ago.
- 3 min de leitura
Duas mulheres de mãos dadas na rua.
Um gesto simples.
Mas, historicamente, perigoso.
O amor entre mulheres sempre foi tratado como algo que não deveria existir. Invisível nas novelas, silenciado nas famílias, proibido nas escolas, ridicularizado em piadas. Mesmo hoje, ainda é um ato de coragem viver esse afeto de forma aberta.

O impacto da invisibilidade na vida de mulheres lésbicas
A sociedade empurra as mulheres para relações heterossexuais como se fosse a única escolha possível. Adrienne Rich chamou isso de heterossexualidade compulsória. Esse mecanismo não só apaga a existência lésbica, como também limita a imaginação de futuros.
Quando uma menina cresce sem referências de mulheres que amam mulheres, ela aprende a se calar sobre seus desejos. O resultado é isolamento, solidão e a sensação de que o amor lésbico não cabe no mundo.
Esse silenciamento não é apenas simbólico. Ele tem efeitos concretos na saúde. Pesquisas sobre saúde mental LGBTQIA+ mostram que mulheres lésbicas enfrentam índices mais altos de depressão e ansiedade em comparação com mulheres heterossexuais. Não por quem amam, mas pelo peso do preconceito, da exclusão e da invisibilidade.
O erótico em Audre Lorde: afeto como potência política
É nesse ponto que Audre Lorde nos oferece uma chave de virada. Em seus escritos, ela fala do erótico como uma energia vital, criativa e profunda, que nasce da intimidade e do afeto verdadeiro entre mulheres.
Essa força não é apenas desejo. É fonte de dignidade, de sentido, de vida. O problema é que a sociedade sempre tentou reduzir o erótico a algo sujo ou perigoso, algo a ser controlado.
Ao recuperar o erótico como potência, Audre nos lembra que amar mulheres é também uma forma de resistir. Visibilidade lésbica é transformar cuidado em política e desejo em futuro.
O que cada pessoa pode fazer pela visibilidade lésbica
Nomear o amor sem medo: dizer “sua esposa” ou “sua parceira” e respeitar quando outra pessoa faz o mesmo.
Questionar e não reproduzir piadas que apagam ou diminuem mulheres lésbicas.
Apoiar artistas, escritoras e coletivos que dão visibilidade às suas histórias.
Escutar suas experiências sem reduzir sua identidade apenas à orientação sexual.
Como organizações podem sustentar a visibilidade lésbica
Incluir mulheres lésbicas explicitamente em políticas de diversidade e pertencimento.
Garantir ambientes de trabalho onde casais e famílias diversas sejam reconhecidos sem constrangimento.
Criar rodas de conversa e formações que desfaçam estereótipos.
Não limitar a celebração à data de agosto: sustentar a inclusão no dia a dia.
Comunidade e memória: visibilidade como herança e futuro
A visibilidade lésbica também é memória. É lembrar de quem abriu caminhos, das que ousaram existir quando tudo dizia não. Mas é também continuidade: cada gesto público de afeto é promessa de futuro.
Criar redes de apoio, valorizar a memória das pioneiras e construir espaços seguros para que meninas e jovens possam imaginar novos futuros são ações coletivas que mantêm essa linha viva.
Visibilidade lésbica é isso: tornar o amor possível, visível, digno de cuidado. Não só em agosto, mas todos os dias.
Quando um casal de mulheres se dá as mãos em público, não é apenas um gesto de afeto. É um manifesto. Porque quando mulheres se permitem amar, elas redesenham o mundo.
Referências
LORDE, Audre. Irmã Outsider. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
LORDE, Audre. Entre Nós Mesmas: Poemas Reunidos. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.
RICH, Adrienne. Heterossexualidade Compulsória e Existência Lésbica. 1980.
SAÚDE MENTAL LGBTQIA+. Brasília: Ministério da Saúde, 2023.
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